Nova Odessa e a "Caverna do Caos": Vereador Elvis Pelé ironiza Leitinho com analogia à Caverna do Dragão
Dívida de mais de R$ 100 milhões, gastos suspeitos e caos na gestão são alvo de crítica criativa do vereador Elvis Pelé, que compara prefeitura a desenho dos anos 80

No desenho, um grupo de jovens tentava incansavelmente voltar para casa após cair num mundo mágico repleto de perigos, enganações e falsas saídas. Em Nova Odessa, a diferença é que não há magia — e quem assiste já perdeu a esperança de que os personagens centrais da história encontrem o caminho da boa administração.
A sátira feita pelo vereador Elvis Ricardo Garcia, o Pelé (PL), usou com precisão o universo da Caverna do Dragão para retratar o estado atual da gestão municipal. A comparação, que viralizou nas redes sociais, surge em meio a um colapso de credibilidade institucional: uma dívida pública superior a R$ 100 milhões, setores à beira do colapso, salários sob risco, escândalos em série e a sensação coletiva de que o governo não sabe mais para onde ir — se é que algum dia soube.
No centro desse enredo está o prefeito Leitinho (PSD), representado na sátira como um “Mestre dos Magos ao contrário”: sempre presente na fala, mas ausente na ação. Em quase cinco anos de mandato, sua principal habilidade tem sido desaparecer quando a cobrança aumenta e surgir com discursos evasivos que giram sempre na mesma órbita — a de culpar o ex-prefeito por tudo, como se o tempo tivesse parado em 2020. Enquanto a cidade afunda, Leitinho repete fórmulas, promessas e justificativas como se o roteiro fosse infinito.
Ao seu lado, mas quase sempre calado, está o vice-prefeito Mineirinho. Figura simpática nas aparições públicas, mas politicamente irrelevante na prática, ele encarna o papel do escudeiro decorativo. Sem protagonismo, sem posicionamento firme, Mineirinho acompanha a crise com a tranquilidade de quem não tem responsabilidade direta — embora a tenha. É aquele personagem que está sempre em cena, mas nunca interfere no rumo da história, mesmo vendo tudo ruir ao redor.
Nos bastidores, o terceiro personagem da sátira se destaca não pela visibilidade, mas pela influência: Renato Amorim, figura que atua como uma espécie de estrategista invisível do governo. Representado como o “Demônio das Sombras” — entidade obscura do desenho original — Renato paira sobre decisões-chave da administração como uma sombra permanente, presente em articulações políticas, formulações de bastidores e orientações estratégicas, mesmo sem ocupar cargo de comando. Ele age como quem manda sem responder, interfere sem se comprometer, influencia sem se expor. E, como toda sombra, se afasta quando a luz da responsabilidade se aproxima.
A sátira, no entanto, tem como pano de fundo uma realidade dura. A prefeitura enfrenta uma grave crise fiscal, escancarada com a revelação de gastos de mais de meio milhão de reais em uma padaria durante a chamada "feira eleitoral", sem licitação — algo que revoltou comerciantes locais e a população em geral. Enquanto isso, áreas essenciais como saúde, assistência social e obras padecem por falta de recursos, insumos e organização. Há relatos de suspensão de serviços, atrasos crônicos e um temor crescente entre servidores: o de que a folha de pagamento de junho possa não ser honrada.
A administração Leitinho acumula desgaste. As promessas de mudança deram lugar à repetição de desculpas, e os escândalos, ao invés de exceções, se tornaram recorrência. O humor do vereador Pelé, embora revestido de sátira, escancara uma sensação generalizada entre moradores e lideranças locais: a cidade está nas mãos de personagens que se confundem entre ficção e fracasso administrativo.
Nova Odessa parece mesmo presa numa caverna — não mágica, mas orçamentária, política e institucional. E, diferente do desenho, aqui ninguém está tentando voltar pra casa. Só tentando não desaparecer dentro do próprio abismo.
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